Sábado, 7 Maio
22h00
Shabazz Palaces está de volta com um novo clássico de design divinamente matemático. Que entre "The Don of Diamond Dreams", cru e duro, iluminado por constelações de abstração sagrada.
Numa lógica de limite corporal e cronológico do espaço, Shabazz Palaces está há quase uma década a desestabilizar muralhas com a sua revolução estilística de estreia, "Black UP" - nomeado pela Pitchfork enquanto "um disco com uma visão inacreditável" e um dos melhores dos 2010s. Mas o projeto formado pelo vocalista e produtor Ishmael Butler (com a assistência do multi-instrumentalista Tendai "Baba" Maraire) nunca se conformou com uma consideração gravitacional ou medição terrestre. São, assim, os herdeiros da imaginação astral de Sun Ra, George Clinton, Octavia Butler e Alice Coltrane. Se a sua residência é Seattle, o seu registo está mais próximo do sistema solar Alpha Centauri do de que Alki Beach.
Na sua premissa e stamina inesgotante para reimaginar o hip-hop, Butler mantém-se como um dos visionários mais importantes do últimos 15 anos. O primeiro longo duração, "Reachin (A New Refutation of Time and Space", lançado com a Digable Planets, continua a ser, 27 anos depois, uma irrefutável prova da sua herança enquanto herdeiro do Miles Davis, enquanto o vemos a fragmentar, reconstruir e expandir todas as possibilidades do som. Já colaborou com mentes igualmente brilhantes, tais como Flying Lotus, Thundercat, Battles e Animal Collective, tendo-se juntado já a Radiohead e Lauryn Hill em tour.
É praticamente impossível descrever fidedignamente um disco de Shabazz Palaces sem nos lançarmos para um cenário cósmico. Mas, por vezes, os clichés representam verdades eternas. "The Don of Diamond Dreams" encorpora uma manifestação futurística de mitos antigos, um espetro alargado de instrumentos como vocoder e auto-tunes distorcidos, Funkadelik repartido em diferentes dimensões, transições estranhas e viagens noturnas cheias de diversão (um reflexo, sem dúvida, das influências costais de Alki Beach). Os sintetizadores são alienígenas mas a bateria fala uma linguagem universal. É, simultaneamente, hip-hop, dub, jazz, R&B, soul, funk, Africano, experimental e, em rara ocasião, até pop. Mas ao longo de cinco trabalhos, Shabazz Palaces têm total desígnio sobre as barreiras fluídas do seu género único.

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